quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O disfarce

Eu tinha um cliente que morava nos cafundós. Sair de lá, só a cavalo. Não existia estrada. Meus honorários eu recebia em porco. Isso mesmo: porco vivo; às vezes galinhas. Como a cidade onde eu atuava era pequena, existia um restaurante especializado em povo do interior: era o único que colocava uma colher ao lado do prato, já que muitos, desse pessoal, não sabiam manusear garfo e faca. O restaurante ficava na mesma rua onde tinha o meu escritório. Para ir a minha casa, eu passava defronte dele. O cliente conhecia o meu carro. À tarde, quando retornei ao escritório, ele estava me esperando em frente.
Cumprimentei-o e ele foi me dizendo:
- Seu “dotor”, eu vi o senhor passar na hora do almoço.
- Ah! Viu é? Desculpe-me, mas eu não lhe vi.
- Pois é! Eu “tava” ali na bodega do Gráineter, almoçando...
- É? Eu passei meio apressado. O senhor deveria estar dentro, almoçando...
- Nem! O senhor não viu um cavalo amarrado na frente da bodega?
- Vi!
- Pois era eu!

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