segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O caldeirão

A noite corria solta em pleno verão de 1870. Ao longe, ouvia-se o pio lúgubre de aves noturnas. O tempo parecia haver parado diante do calor estuante. Nada se movia, nem brisa dava as graças para amenizar o sofrimento. Pernilongos, em silvos agudos e odiosos, infernizavam o sono dos moradores. Algumas pessoas da aldeia, vencidos pelo cansaço, dormiam como se nada lhes importunasse. Outros, mais resistentes, não se deixavam vencer pelas agruras que açoitavam a noite. Uma lua minguante, parda, estafada, alumiava modestamente as altas horas.
Foi nesse soturno clima que, dado momento, a monotonia foi violentamente quebrantada pelo ganidos dos cães. Em seguida, alvoroçaram-se e saíram em perseguição, acuando não se sabe o quê, pela única viela da aldeia. Nho Bento Manoel Teixeira*, homem de coragem, acostumado ao perigo, não deixou por menos. Investido de ímpeto bravo, abriu a porta para constatar o que estava se sucedendo.

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Diante dos seus olhos, perseguido pelos cães, um caldeirão esférico, luminoso, emitindo um zumbido estranho, como veio a ser descrito, deslisando no ar, a uma altura de um metro, mais ou menos, deslumbrou sua vista. Segundo ele, o artefato girava rotatoriamente, no ar, espalhando faíscas. Muitos outros moradores também confirmaram. Grande parte dos cães que perseguiu o engenho, até não se sabe onde, sucumbiu em três dias de um mal inexplicável. Sonda??



* Bento Manoel Teixeira - meu avô materno.